MOVIMENTO LAGOINHA VIVA


Convidado

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2013-09-25 00:57

A BRASILINHA DO LACERDA: MORADORES DA LAGOINHA E BONFIM EM RISCO!

Talvez poucos cidadãos belo-horizontinos, se pegarmos como medida a população total de Belo Horizonte, estejam cientes do mais recente projeto delirante do senhor prefeito da capital, Marcio Lacerda (PSB). Segundo reportagem publicada no dia 5 deste mês pelo jornal O TEMPO, o prefeito assinou um decreto em 28 de junho que prevê a desapropriação de 20 imóveis localizados nos bairros Lagoinha e Bonfim, região noroeste da cidade, com a finalidade de construir um centro administrativo para abrigar todas as instâncias administrativas da prefeitura.

Hoje à noite, uma reunião convocada pelas associações de moradores da região reuniu cerca de 500 pessoas na quadra da igreja de Nossa Senhora da Conceição. Além de moradores e lideranças comunitárias, estiveram presentes ainda o secretário da regional noroeste, Cristiano Lamas, os vereadores Arnaldo Godoy, Pedro Patrus e Adriano Ventura, os deputados estaduais Fred Costa (PEN), João Vitor Xavier (PRP) e o deputado federal Padre João (PT) – todos os parlamentares se declararam contra o projeto que já é conhecido nas ruas como "Brasilinha do Lacerda".

Perdidos num mar de desinformação, os moradores foram ali em busca de respostas, mas saíram de mãos vazias. O secretário da regional noroeste, Cristiano Lamas, foi evasivo diante dos questionamentos dos moradores, mas confirmou que há, sim, o desejo, já manifestado em decreto, da prefeitura transferir todos os seus equipamentos administrativos para a região. Ainda segundo Lamas, a prefeitura pretende, em cerca de 40 dias, apresentar um edital para convocar empresas que possam se interessar em financiar o empreendimento a partir de uma parceria público-privada. Esta parceria, de acordo com Lamas, prevê que essas empresas coloquem dinheiro no projeto e, em troca, o centro administrativo municipal incluirá, além da estrutura administrativa de fato, um grande estacionamento e um centro de compras – o direito a explorar esses dois negócios seria o benefício dessas empresas.

Os moradores desses bairros foram pegos de surpresa com a informação. Apesar do decreto que prevê as desapropriações ter sido publicado no Diário Oficial do Município em 29 de junho, a população só veio a ficar sabendo da questão quando da publicação da reportagem de O TEMPO. Sem informações precisas e se sentindo vítima de uma negociata na surdina da prefeitura, a população foi enterrada, de uma hora para outra, em uma atmosfera de pânico, apreensão e desespero. Também, é óbvio: a decisão do prefeito pode afetar a moradia e a qualidade de vida de pelo menos 12.000 pessoas – isso se levarmos em conta apenas os bairros Lagoinha e Bonfim, que estão no epicentro da ganância do prefeito. Se formos levar em conta toda a regional nordeste, o impacto vai atingir uma população de mais de 58 mil pessoas – população estimada pelo Censo 2000.

Mas se engana quem pensa que esse é um problema único e exclusivo para os moradores da região. É um problema para a cidade inteira. É, mais uma vez, o prefeito direcionando esforços e investimentos para construir a sua própria Brasilinha enquanto o transporte, a educação, a saúde, a segurança e a cultura continuam a padecer.

Incontáveis questões precisam ser feitas e respondidas. O secretário da regional noroeste insistiu que a população do bairro será consultada. Consultada depois de um decreto já publicado no órgão oficial do município? Que tipo de consulta é essa? E que tipo de "diálogo" que a prefeitura quer com essa população depois de deixá-la tomar conhecimento que está no olho do furacão apenas pela imprensa?


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Para quem não sabe, a região da Lagoinha é uma das mais tradicionais da cidade. A maior parte dos moradores nasceu, cresceu, casou e teve filhos sem arredar pé do bairro. Na quadra da igreja, senhoras e senhores, muitos com mais de 80 anos, se desesperavam com a possibilidade de terem que sair de suas casas. São famílias inteiras, comerciantes, gente que construiu uma vida inteira sobre este chão e que agora já antecipam o pesadelo de verem suas casas transformadas em estacionamento e loja pra empresário ganhar dinheiro. Isso é justo?

Eu estava lá. Eu sou uma dessas pessoas. E eu pude sentir nesses meus vizinhos – que muitos eu nem conhecia – o mesmo desespero. O desespero de, de repente, ficar sem as casas onde vivemos e onde vivem as nossas memórias, as nossas histórias, todo o nosso investimento. O desespero de termos nossas vidas reviradas, de sermos jogados para um canto qualquer que indenização nenhuma vai pagar. O desespero de ter que amargar na Justiça para garantirmos que os nossos prejuízos sejam, pelo menos, minimizados. Mas nunca serão.

Gravei até quando foi possível os depoimentos dos presentes. Com calma, eles serão decupados e compartilhados. Esta questão não é minha e dos meus vizinhos apenas. É nossa, de todos os cidadãos de Belo Horizonte. Hoje a metralhadora está apontada para cá, depois... vai saber. Se precisar fechar o complexo da Lagoinha, nós vamos fechar. Se precisar acampar na porta da casa luxuosa do prefeito em um condomínio fechado, nós vamos acampar. Temos como exemplo a mobilização do Calafate contra a transferência da rodoviária para lá.

Nós não queremos sair daqui. E posso falar com tranquilidade por mim, por todos que estiveram presentes e pelos que não puderam ir: NÓS NÃO VAMOS ARREDAR PÉ! NOSSAS CASAS NÃO VÃO VIRAR ESTACIONAMENTO! NOSSO BAIRRO NÃO É SUA EMPRESA, SENHOR PREFEITO!