Denúncia internacional de Rick Azevedo e do Movimento VAT à Organização das Nações Unidas - Milhões são escravizados pela escala 6x1 enquanto o lobby empresarial compra a omissão do Congresso.

Excelentíssimos(as) Senhores(as) Representantes da Organização das Nações Unidas,

Vimos, em nome de milhões de brasileiros e brasileiras, denunciar ao mundo uma das maiores violências silenciosas do nosso tempo: o regime de trabalho 6x1, ainda amplamente praticado no Brasil.

Esse modelo de seis dias de trabalho para apenas um de descanso é uma forma moderna de exploração institucionalizada, que destrói corpos, adoece mentes, desintegra famílias e tira a vida de milhares de trabalhadores todos os anos. Como observa Abreu (2025, p. 5), “a liberdade humana é inconcebível sem o tempo, a ponto de se poder afirmar que, na ausência do tempo livre, isto é, o período temporal em que uma pessoa não está obrigada a trabalhar ou a realizar outras atividades impostas, inexiste também a liberdade real.”. Assim, o regime 6x1 não apenas retira o descanso, mas suprime a própria possibilidade de liberdade e de desenvolvimento humano pleno, transformando o tempo de vida que sobra em mera extensão de reprodução social, ou seja, em outra jornada de trabalho com a realização de atividades necessárias à própria existência.

Quando falamos em reprodução social, referimo-nos às tarefas que permitem que as pessoas existam e trabalhem: arrumar a casa, preparar alimentos, fazer a faxina, cuidar dos filhos ou de familiares. São atividades essenciais à vida cotidiana, mas frequentemente desvalorizadas, pois não geram lucro direto — embora sustentem todo o sistema produtivo.

Enquanto o mundo civilizado caminha rumo a jornadas mais humanas, o Brasil permanece preso a um sistema arcaico, sustentado por um Congresso Nacional que há décadas se recusa a mudar. Mesmo diante de uma petição pública com mais de três milhões de assinaturas, de um plebiscito popular, de uma PEC com apoio recorde e de pesquisas que comprovam os impactos devastadores dessa escala, o Congresso brasileiro segue de braços cruzados, ignorando o sofrimento do povo que diz representar. 

O silêncio não é inocente. Ele é comprado pelo lobby empresarial, que dita a pauta da Casa Legislativa e sabota toda tentativa de mudança. Um conluio entre poder econômico e poder político transformou a exaustão e o adoecimento em política de Estado. Em outras palavras, o sofrimento dos trabalhadores brasileiros não é um acidente — é o sintoma de um modelo que transforma o corpo e o tempo em mercadoria.

Segundo reportagem publicada pelo portal G1 - um dos mais relevantes do Brasil -,  em março de 2025, o Brasil atingiu o maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos, ultrapassando cerca de 470 mil casos apenas em 2024, segundo dados do Ministério da Previdência. (G1, 2025a). O país enfrenta uma crise de saúde mental sem precedentes, com um crescimento expressivo nos diagnósticos de transtornos relacionados ao estresse ocupacional e à sobrecarga de trabalho. Especialistas ouvidos na reportagem  (G1, 2025a) alertam que o esgotamento está diretamente ligado à falta de tempo para descanso, lazer e convivência familiar  — exatamente o que o regime 6x1 retira dos trabalhadores. Resultados da sondagem realizada pelo Ministério do Trabalho e analisada por Calvete, Franke e Pinheiro (2025) apontam que o adoecimento mental relacionado ao estresse do trabalho foi uma das principais causas de desligamento voluntário em 2024, representando 23% das respostas. Quando somados aos casos de adoecimento físico, esse índice supera 30%, confirmando que o trabalho excessivo se tornou um vetor central de colapso da saúde dos trabalhadores brasileiros.

Esses números revelam que o modelo atual de jornada no Brasil não apenas viola direitos trabalhistas, mas também coloca em risco a saúde pública nacional. Segundo Abreu (2025, p. 5), “as jornadas longas e intensas, o empobrecimento do tempo livre e o rebaixamento da vida à função econômica pura e simples [...] patenteiam a subordinação do tempo às lógicas do trabalho, da produtividade irrestrita e do lucro”.

Enquanto o capital lucra, o povo desaba. Estudos e reportagens recentes têm mostrado que a redução da jornada de trabalho é uma tendência mundial não apenas por razões humanitárias, mas também econômicas e de produtividade. Segundo matéria publicada pelo portal G1, “Redução da Jornada de Trabalho: impactos e desafios para empresas”, o debate divide opiniões, mas já se observa que a adoção de jornadas menores pode trazer ganhos expressivos à saúde mental dos trabalhadores e não necessariamente compromete a eficiência das empresas, sobretudo com o avanço da automação e da digitalização dos processos (G1, 2025b). O texto destaca que, ao automatizar etapas e otimizar fluxos internos, pequenas, médias e grandes empresas conseguem manter o controle operacional, cumprir a legislação trabalhista e melhorar o ambiente de trabalho — o que se traduz em maior engajamento e produtividade das equipes (G1, 2025b).

Além de urgente, a redução da jornada é tecnicamente possível e já conta com exemplos de sucesso. Conforme ressalta a reportagem do G1 (2025b), ao investir em automação e gestão inteligente, empresas de diferentes portes conseguem integrar a redução da jornada sem perder competitividade. Isso demonstra que o obstáculo não é técnico nem econômico, mas político — resultado da resistência histórica de setores que ainda enxergam o tempo do trabalhador apenas como custo, e não como fator de qualidade, inovação e sustentabilidade social.

Trabalhadores estão adoecendo dentro de hospitais, comércios, escritórios e fábricas. O corpo humano não aguenta mais a pressão de uma economia que exige produtividade em troca da própria vida. A última redução da jornada de trabalho no Brasil aconteceu em 1988, quando o país passou de 48 para 44 horas semanais. De lá para cá, o tempo parou para a classe trabalhadora. A Constituição prometeu dignidade, mas a rotina continua desumana. Desde 1935, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomenda o limite de 40 horas semanais, e quase um século depois o Brasil ainda se recusa a cumprir.

A resistência à redução da jornada revela o caráter ideológico da chamada “doutrina TINA” — There Is No Alternative —, expressão consagrada por Margaret Thatcher. Para Abreu (2025), esse discurso resume a resiliência de um regime tão adverso à emancipação humana, ao naturalizar a ideia de que não há alternativas ao modo de produção vigente. O resultado é a perpetuação de um modelo que sequestra o tempo e legitima a exploração sob o pretexto da inevitabilidade econômica. Como afirmam Calvete, Franke e Pinheiro (2025), o tempo de trabalho deve ser entendido como um “fractal do tempo”: cada parte dele reproduz o todo da vida social. “Por isso, toda luta que envolve a modificação do tempo de trabalho, seja em sua duração, intensidade ou distribuição, tem em comum o mesmo objetivo: a apropriação, pelo trabalhador, do seu próprio tempo”. (CALVETE; FRANKE; PINHEIRO, 2025, p. 6). Essa, portanto, é uma condição fundamental para a liberdade humana e para a recusa às longas jornadas de trabalho como destino inevitável.

O artigo 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos garante a toda pessoa o direito ao repouso e ao lazer, incluindo uma limitação razoável da duração do trabalho. Mas aqui, o descanso virou privilégio e o lazer, utopia.O regime 6x1 não é uma tradição. É uma violação contínua dos direitos humanos. Ele rouba o tempo de vida, destrói a saúde mental e transforma o cansaço em moeda de troca. O Congresso Nacional brasileiro é cúmplice desse crime histórico. Sua omissão tem custo: vidas humanas. A cada semana em que essa pauta é ignorada, um novo trabalhador adoece, desiste ou morre.

Por tudo isso, Rick Azevedo e o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) pedem uma intervenção internacional urgente. É necessário que a Organização das Nações Unidas reconheça o Brasil como um país em colapso social e trabalhista. Solicitamos que esta Organização:

  1. Emita uma recomendação formal ao Estado brasileiro para revisão imediata da legislação trabalhista que sustenta o regime 6x1;
  2. Pressione o Congresso Nacional e o Executivo a implementar uma jornada de 36 horas semanais, em conformidade com os parâmetros da OIT;
  3. Crie mecanismos internacionais de monitoramento e fiscalização sobre as condições de trabalho e saúde mental no Brasil;
  4. Reconheça a situação brasileira como uma crise humanitária silenciosa que exige resposta global.

O Brasil não precisa de mais discursos. Precisa de ação. A economia não sobrevive sem trabalhadores saudáveis. E os poderosos vão entender isso de um jeito ou de outro. O próprio setor produtivo já começa a reconhecer que o futuro do trabalho depende de equilíbrio. Como destacou o G1 (2025b), empresas que se adaptam à redução da jornada conseguem não apenas preservar a saúde mental dos trabalhadores, mas também aprimorar seus resultados e reduzir custos indiretos com afastamentos e rotatividade.O próprio setor de supermercados, pujante no Brasil, admite dificuldades na contratação de mão de obra e já apostam em “formatos de trabalhos mais flexíveis para preencher postos operacionais.” (ESTADÃO, 2025) A mudança, portanto, é uma necessidade social e econômica — e o Brasil não pode permanecer atrasado diante dessa transição global.

A pesquisa de Calvete, Franke e Pinheiro (2025) demonstra que, em contextos de precarização e sobrecarga, cresce o número de trabalhadores que simplesmente desistem de seus empregos, num fenômeno descrito como “Grande Demissão”. Segundo os autores, essa onda de desligamentos voluntários revela o cansaço coletivo diante de jornadas extensas, intensas e sem flexibilidade — uma recusa prática à expropriação do tempo e ao esgotamento físico e mental imposto pelas lógicas produtivistas.

Este não é apenas um apelo. É um pedido de socorro coletivo. O povo brasileiro clama por uma vida além do trabalho. Como demonstra Abreu (2025, p. 11), “a adoção, pelos ativistas contra a escala 6x1, do mote ‘vida além do trabalho’ indica um movimento de recusa à transformação dos sujeitos em objetos, típica do trabalho abstrato, o que abre fissuras na sociabilidade capitalista”. Portanto, defender o fim da escala 6x1 é mais que uma pauta trabalhista: é um gesto de libertação coletiva, de reconstrução do tempo como espaço de liberdade, cultura, afeto e cidadania.

 

Com esperança, coragem e indignação,

Rick Azevedo e o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT)

Pelo fim da escala 6x1 e pela redução da jornada de trabalho no Brasil

 

Referências Bibliográficas:

ABREU, Leonardo Lani de. A promessa incumprida de mais tempo livre ao trabalhador. In: Dossiê: Fim da Escala 6x1 e Redução da Jornada de Trabalho.  2025. Disponível em: https://www.dmtemdebate.com.br/wp-content/uploads/2025/11/Artigo-9.pdf. Acesso em 10 nov. 2025

CALVETE, Cássio da Silva; FRANKE, Luciane; PINHEIRO, Tiago. Fractais do tempo: jornadas, sofrimento e a Grande Demissão no Brasil. Dossiê: Fim da Escala 6×1 e Redução da Jornada de Trabalho 2025. Disponível em: https://www.dmtemdebate.com.br/wp-content/uploads/2025/10/Artigo-7.pdf. Acesso em: 10 nov. 2025

ESTADÃO. SUPERMERCADOS têm falta de trabalhadores e recorrem até ao Exército para preencher 350 mil vagas. Mudança no perfil profissional afasta jovens dos supermercados; setor aposta em reservistas, idosos e formatos de trabalho mais flexíveis para preencher postos operacionais, São Paulo, 10 nov. 2025. Disponível em: https://www.estadao.com.br/economia/supermercados-falta-trabalhadores-ate-exercito-preencher-350-mil-vagas-nprei/?srsltid=AfmBOoqKUaSuuyFiBlCCr23RyspjYiW4UxiG1IHQUxOngpDmRQBO9hHe. Acesso em: 10 nov. 2025.

G1. Crise de saúde mental: Brasil tem maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos. G1 – Trabalho e Carreira, Rio de Janeiro, 10 mar. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2025/03/10/crise-de-saude-mental-brasil-tem-maior-numero-de-afastamentos-por-ansiedade-e-depressao-em-10-anos.ghtml. Acesso em: 10 nov. 2025a.G1. Redução da jornada de trabalho: impactos e desafios para empresas.

G1, Rio de Janeiro  06 maio. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2025/03/10/reducao-da-jornada-de-trabalho-impactos-e-desafios-para-empresas.ghtml. Acesso em: 10 nov. 2025b.

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